Tradição em 142 anos
No número 220 da rua São Bento está localizada uma das mais antigas casas comerciais de São Paulo. A botica Veado D’Ouro foi a primeira loja da franquia a ser aberta, mas, fora a fachada, pouca coisa conserva de sua construção inicial. O dono atual também não tem uma preocupação de preservar o local. Ele só tira seu arquivo histórico –um calhamaço de documentos e algumas fotos de época— do cofre no final de cada ano, quando faz uma exposição na loja da São Bento.

Felizmente, nem tudo fica restrito ao cofre. A história da casa daquele tempo ficou gravada na memória dos funcionários. O gerente de farmácia Tuyoshi Tokunaga chegou a São Paulo há 35 anos e, desde então, trabalha na Veado D’Ouro. "Sou do tempo do bonde. Era um passeio bem divertido, e quase todo mundo fazia. O ponto final era no Anhangabaú, e as pessoas vinham caminhando até as ruas de comércio no Centro", conta.
Recentemente, a loja sofreu uma reforma, com a qual perdeu os últimos detalhes de sua construção original. "Mas a casa nem chegou a fechar. A gente mudava o balcão de lugar e a loja continuava aberta. Colocaram um revestimento de madeira sobre a parede e refizeram todo o piso. O engraçado foi que, mesmo com todo aquele barulho e poeira, os clientes não deixaram de vir. O movimento parecia normal."
Logo adiante, o número 176 da São Bento abriga uma loja bem diferente da botica Veado D’Ouro, um símbolo de resistência à modernização e aos marreteiros do Centro. A Casa Fretin ocupa até hoje lugar cativo no comércio da região. Quando fundada, em 1895, a casa ficava no número 20 da rua. "Depois, com o progresso e o aumento das vendas, o fundador, o sr. Louis Fretin, resolveu mudar a sede para uma área mais nobre: a Praça do Patriarca, que acabara de ser construída", conta a gerente Isabel Cristina Rocha.
Com isso, a loja cresceu e diversificou seus produtos. A princípio, a Fretin apenas vendia relógios, em sua maioria, importados. Depois das mudanças, passou a comercializar óculos, cosméticos, material cirúrgico e novidades trazidas da Europa. "A pior fase foi quando estourou a Primeira Guerra Mundial. Não dava para importar nada e isso dificultou as vendas. Mas agora é uma época bem diferente: os camelôs atrapalham muito, gritando e jogando baralho, sem ligar para o cliente. E o Centro também não tem o mesmo glamour. Ainda assim, é melhor trabalhar aqui do que na outra filial (em Moema). Não me acostumo. Aqui as pessoas são mais gentis e bem-educadas. Têm sempre um ‘muito obrigado’ ou um ‘bom dia’ para dizer."