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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Tempos modernos

A par da multidão que passa apressada, diariamente, dois olhos entediados observam estáticos. "Quando eu era criança pedia pro meu pai me trazer aqui. Passava a noite em claro, ansiosa para não perder a oportunidade. Achava tudo lindo! Quando eu comecei a trabalhar na Estação, há 17 anos, estava sempre superatenta. Até trocava olhares com um rapaz da ASO e a gente namorou por sete anos", narra Lilian Saramuga Conti, gerente das cadeiras de engraxate da Estação da Luz.

A rotina mudou tudo isso: "Não vejo a hora de ir embora, já conheço todo mundo, não tem mais novidade, só violência e o movimento dos negócios não vão nada bem, dá até sono". Segundo ela, o sistema de aluguel para engraxates funciona da mesma forma há mais de 40 anos, época em que seu pai e seu tio compraram o "ponto". E foi com o dinheiro desse comércio e com mais três pontos de engraxe que ela e seus cinco irmãos foram criados. Velhos tempos em que os homens de todas as idades mantinham religiosamente seus caros sapatos lustrados. Costume remanescente da virada do século, quando a primeira Estação ainda não havia sido demolida – como tantas outras obras da cidade de São Paulo – para que fosse construída a segunda versão, a que permanece. "Atualmente, é mais fácil ver uma mulher sentar aqui que um garoto de 16/17 anos", afirma Lilian. Cena pouquíssimo provável mesmo em 1946, quando um vultuoso incêndio destruiu grande parte da segunda versão da São Paulo Railway ou da "Inglesa", como era conhecida por ter recebido investimentos de ingleses. Tempos em que os relógios começavam a se agarrar aos pulsos das pessoas, e a torre da Estação, nos moldes do Big Ben, recebeu um modelo inglês movido a cordas para alertar os passageiros à precisão dos horários de partida dos trens. (28/03/2000)

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