Uma moradora única

Saindo displicentemente em uma espécie de triciclo adaptado, Elaine De Clemente passeia acompanhada de sua cocker spaniel, chamada Caroline. Elaine é deficiente física, mas não se aperta ao andar pelo Centro.

“Faz mais ou menos 28 anos que eu vivo no Edifício Copan. Mais precisamente, no terceiro andar do bloco C. Somos só eu, minha cachorrinha e uma calopsita [uma raça de papagaio]. Morar aqui, para mim, é muito fácil. Tem toda a infra-estrutura e a comodidade de que eu preciso: banco, elevadores, rampas, farmácia, tudo. Posso ir andando para fazer tudo, tanto para comer como para comprar remédio para algum dos meus bichinhos.” Com tantas facilidades como as mencionadas por Elaine, pode-se pensar que existem muitos deficientes vivendo no Copan. Mas, da população de mais de 5 mil pessoas do edifício –equivalente à de uma cidadezinha do interior—, só Elaine sofre por alguma deficiência física. “É como se tudo isso tivesse sido criado só para mim. O seu Affonso [o síndico] sempre me pergunta se eu preciso de mais alguma coisa: mais uma rampa ou algo assim. Fica me paparicando”, conta. Elaine gosta de morar no Centro, embora veja problemas na região. “Mas vai se fazer o quê, né? Hoje em dia, todo lugar tem disso: prostituição, travestis, drogas. Não é um problema exclusivo daqui.” Apesar disso e vivendo sozinha –é viúva—, não se sente insegura. “Eu gosto de morar no Copan, principalmente por causa da agitação que tem por aqui. Mas ultimamente deixei de ir a certos lugares. Se servir como alerta para alguém, não vou mais à Praça Dom José Gaspar e à da República –embora nem exista mais aquela feirinha [mudou-se para a Avenida Ipiranga aos domingos]. Agora tenho medo de ser assaltada. O que eu acho é que falta preservação. Toda essa estrutura do Centro tem que ser mantida. Mesmo o Copan, não é só por ser uma obra bonita e do Oscar Niemeyer. Mas por fazer parte da nossa história.” Tímida, pede para não aparecer na foto do site. “Não, de mim, não. Tira da Caroline. Ela adora fotos. Faz até pose, ó. Depois eu visito a página na Internet para ver como ficou...”