Um bicho urbano

“Sou um bicho urbano. Sinto falta do concreto. Quando viajei para o Paraná, senti um aperto ao ver tanto verde. Faltava alguma coisa. Acho que era o cinza de São Paulo.”

João Batista Augusto, 44, é esse amante do cinza das chaminés das fábricas. Ele é dono da “boutique de pães”, uma padaria chamada Pan Boutique, que fica ao lado da entrada do bloco B do Copan. De freguesia eclética, segundo ele. “Aqui dá de tudo, desde quem está chegando da noite até quem está saindo para trabalhar”, conta. A desenvoltura de Seu João ao andar pelo prédio engana. Parece que está ali faz muito tempo. No entanto, só comanda a padaria há três meses. Essa impressão de profundo conhecimento do Centro vem de décadas atrás. “Em 1968, eu só tinha 13 anos, mas já trabalhava como office-boy de uma agência de publicidade. Tinha que circular muito por essa região, então acabei me acostumando.” Até mesmo por isso, Seu João foi protagonista de histórias peculiares: “Um dia eu estava carregando um pacote de revistas pela região da Rua 15 de Novembro, quando a polícia me parou. Acharam que eu era um menor abandonado. Fui para a delegacia e tudo, tive que ligar para o meu chefe para que ele explicasse tudo. Só então me liberaram. Mas também, naquela época, não tinha tanto mendigo e trombada como agora. Foi por isso que eu deixei de andar tanto por aqui”, diz, desgostoso. Mas Seu João já frequentou muito o Centro. “Ah, eu fazia de tudo. Ia ao cinema, ao teatro e saía mesmo só para passear. E ver gente, que eu adoro. Olhar no olho, ver gente diferente.” Chegou a brigar com um amigo que falou mal da cidade. “Ele me disse que São Paulo era feia. Falei que ele estava dizendo aquilo para a pessoa errada. Ele tentou consertar dizendo que, na verdade, era mais o Centro que era feio. Ficou pior. Eu sou um dos maiores adoradores do Centro.” E se despede: “Mas, olha, Centro é História. É a nossa História”.