Mapeando as riquezas do Centro
"Hoje gosto mesmo é de andar a pé, de metrô ou táxi, porque assim dá pra olhar mais a vida, perceber e sentir melhor as coisas. Num carro você fica neurótico, atento no trânsito e ainda corre mais perigos". É assim que Gepp (como é conhecido Haroldo George, 45 anos) faz para conhecer melhor a cidade ou o lugar o qual vai desenhar, andando por suas ruas e conversando com os moradores.

Cartunista há quase três décadas, Gepp é formado em desenho industrial e começou sua carreira trabalhando em jornais - a Gazeta Esportiva e Jornal da Tarde - e revistas. Em parceria com José Roberto Maia, os dois já desenharam mais de 60 locais, como o Centro de São Paulo, o Playcenter, Fortaleza e Los Angeles.
São mapas característicos e divertidos que mostram a cidade (ou parte dela) com cenas e detalhes freqüentemente ofuscados por seu cotidiano ou pelo corre-corre dos grandes Centros. No caso de São Paulo, por exemplo, Gepp explica que a intenção era "mostrar o lado bom do Centro da cidade, que também tem seus encantos mas que poucos percebem". Opções de lazer, pontos turísticos, pessoas se divertindo e sempre com sorrisos no rosto compõem os desenhos da dupla, que podem levar até três meses para ficar prontos.
Gepp explica que é um processo lento: "Primeiro precisamos de uma semana no local para obter o maior número de informações, fotografar (só no Centro de São Paulo tirou mais de mil) e descobrir a cidade. Depois, em cima de um guia de ruas, começamos a esboçar o desenho, que é feito atualmente todo no computador". Ele se considera um pessoa informatizada, tem um Machintosh, um site (http://www.geppmaia.com.br), se comunica via e-mail e tem até ICQ!
O mapa do Centro de São Paulo foi encomendado pelo ProCentro e pela Bolsa de Mercados & Futuros (BM&F) e foi um dois últimos desenhados à mão. O Copan, a Casa das Arcadas (Rua Senador Feijó) e o Café Girondino são alguns dos muitos lugares que o cartunista gosta no Centro. "Ah, e tem também a Galeria do Rock, onde as tribos mais diversas se reúnem, cada uma em seu andar, é muito divertido."
A cada olhar no mapa, percebem-se novos detalhes, como o maestro em cima do Teatro Municipal, o Viaduto do Chá com seus postinhos de época, as ferramentas "andando" na Rua Florêncio de Abreu, onde estão reunidas lojas e barracas deste tipo do comércio. Para Gepp, uma das cenas retratadas mais interessantes é a do homem-placa, "uma marca registrada do Centro da cidade".
Ao falar dos homens-placas, ele faz um pausa, desvia seu olhar penetrante e começa a falar dos problemas da região. "Para mim, a presença dos camelôs é o maior problema do Centro, porque não tem solução, é um verdadeiro impasse. Por um lado, precisa-se ver o lado humano, eles precisam trabalhar, porém estão ocupando um espaço público. A solução não está em procurar um novo lugar para eles, mas sim em tratar a raiz do problema, que é a péssima distribuição de renda brasileira".
Apesar de classificar como pura hipocrisia quem promete resolver todos os problemas da cidade, Gepp acredita na revitalização do Centro. "Com reformas, obras de restauração e ajuda da iniciativa de empresas privadas, pelo menos as pessoas vão começar a perceber o Centro". (25/10/2000)