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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

O dia em que o Centro parou

No dia 1º fevereiro de 1974, a Câmara Municipal de São Paulo retomava suas atividades depois do recesso de fim de ano. Orlando Augusto Pinto, que então estava completando quatro meses trabalhando lá, conta que “os militares queriam ver a política parada o máximo que pudessem. Por isso os recessos eram grandes". Naquele dia, ouvindo rádio antes de ir para o trabalho, soube que havia um incêndio no Centro da cidade. “Mas não prestei atenção, não sabia direito onde era. E o Joelma é vizinho da Câmara.” Ele morava na Avenida Rangel Pestana, no Centro, e ia a pé para o trabalho. “À medida em que me aproximava do local, a confusão aumentava nas ruas e nas calçadas.”

O incêndio havia começado às 8h30, no 12º andar, por causa de um curto-circuito no sistema de ar-condicionado. Por volta das 11h, horário em que Orlando começava seu expediente, o trânsito estava caótico e os bombeiros haviam interditado a entrada da Câmara, pois o heliponto do prédio estava sendo utilizado como pronto-socorro improvisado para as pessoas resgatadas pelos helicópteros. De lá, elas eram levadas pelos elevadores até o subsolo onde se encontravam as ambulâncias. “No meio da confusão encontrei com a minha chefe. Era uma senhora tão caxias que gostava que todo mundo chegasse mais cedo.” Orlando conta que mesmo em meio ao caos ela parecia ignorar a gravidade da situação e queria entrar no edifício para trabalhar. “Como o prédio estava interditado, ela teve que se conformar e ir para casa.” Ele diz ainda que o zelador da Câmara teve o bom senso de mandar abrir todas as janelas do edifício. “Se ele não tivesse feito isso, os vidros teriam estourado com a pressão do ar.” Ao contrário da multidão que se aglomerava em frente ao Joelma e nas imediações, Orlando não quis ficar para assistir ao desfecho do desastre. “Tem gente que gosta de ficar vendo esse tipo de coisa. Eu não gosto. Fui para casa.” A Câmara ficou fechada por mais uma semana. “Houve uma paranóia com segurança na época, por causa do Joelma e do Andraus, que havia pegado fogo dois anos antes. Na própria Câmara, foi promovida uma semana de prevenção a incêndios, com palestras sobre o que fazer caso aconteça um acidente assim”, recorda. Hoje, Orlando continua trabalhando na Câmara. É assessor técnico administrativo da comissão de educação, cultura e esporte. Vai de carro trabalhar e deixa-o no Joelma (hoje Edifício Praça da Bandeira), onde há estacionamento nos primeiros andares. “Com o passar do tempo, parece que os cuidados a serem tomados para se evitar incêndios foram sendo esquecidos. Quantos prédios existem por aí sem as mínimas condições de segurança?” Ele cita a própria Câmara como exemplo do descaso. “Se você for ao 13º andar vai ver um emaranhado de fios expostos”, diz, referindo-se aos fios que saem pelo vão das lajes de gesso que caíram. “Aqui é o local onde as leis da cidade são feitas, deveria ser o primeiro local a respeitá-las."

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