Paz e amor, bicho!
Como muitos expositores da Praça da República, Vera e Moreira são remanescentes da geração “flower-power”. Cabelos compridos, roupas simples, jeito tranqüilo e até um pouco arrastado de falar. Nas caixas de som de sua casa, em Mairiporã (município há 33 Km de São Paulo), só ícones dos anos 70, como Led Zeppelin, Deep Purple, Raul Seixas e Zé Ramalho. Adoram reunir os amigos em casa para uma roda de violão regada a vinho em volta da fogueira, e apreciam um “baseado” de vez em quando. “Mas você tem que curtir a droga, e não deixar a droga te curtir, como muita gente faz”, explicam.

Aos domingos, os dois viajam para São Paulo e expõem na praça os bonecos de durepox em forma de bruxas e feiticeiros feitos por eles. Com a atividade “dá para pagar o aluguel, comer, comprar o que a gente precisa”, revela o casal, que tem três filhos – Mirra, 6 anos, Caique, 3 e Vitória, 1 ano e oito meses.
Foi em 1994, em um barzinho de Mairiporã que eles se conheceram. “A gente se apaixonou mesmo. Três meses depois, fomos morar juntos. A gente não tinha casa, dinheiro, nada, mas mesmo assim, resolvemos encarar”, conta Moreira.
“Eu trabalhava em uma firma e ela em um acampamento infantil. Logo, precisamos de dinheiro e começamos a fazer esses bonecos. Ficamos um mês em casa só produzindo até que resolvemos expor. Já no primeiro dia, vendemos tudo e nos empolgamos. Por isso estamos aqui até hoje.” Vera complementa que “no começo, os bonecos eram muito feios. Com a prática, melhoramos bastante. Temos encomenda até mesmo do exterior".
Os dois chegaram a morar um ano em São Thomé das Letras (MG), cidade conhecida por ser um reduto de hippies, místicos e pessoas em busca de sossego. Viviam de artesanato. “Mas não dá para viver em uma cidade turística, porque tem época de movimento, em que vendemos bastante, e época em que a cidade fica vazia. Foi por isso que voltamos para São Paulo.”
Eles acham a Praça da República um bom lugar para expor seus trabalhos, mas admitem que antes de a Prefeitura ter tirado a feira de dentro da praça (veja histórico), em 1997, o local era bem mais movimentado e eles vendiam mais. “A Prefeitura diz que fez isso para tirar o pessoa que ficava aqui à noite fumando crack, mas o que aconteceu é que quem trabalha sério perdeu muitas vendas e o problema das drogas não foi resolvido”, afirma Moreira. “Naquela época a gente ficou mal mesmo. Teve até caso de gente aqui que se suicidou. E o problema das drogas continua até hoje. À tarde, quando vamos embora para casa, passamos pela periferia e, do ônibus, vemos crianças comprando crack em uma esquina e a polícia na outra. Os traficantes agem na maior cara-de-pau. O governo deveria prestar mais atenção a essas coisas, e não tirar os expositores daqui.”