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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Nossa Casa

NAS CURVAS DO CENTRO

Não é o ângulo reto que me atrai nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein. Oscar Niemeyer, em As curvas do tempo, traduz a sensação exata de estar dentro do Copan. Suas curvas são intermináveis: seja no vai-e-vem dos passantes por suas galerias, no sobe-e-desce dos elevadores por seus 32 andares ou nos pensamentos que nos acometem a todo instante. Reciclagem é a palavra: temos um vizinho hoje, podemos não vê-lo mais amanhã. No térreo, são tantos os porteiros que, apesar de boa fisionomista, ainda me confundo. Puxo papo com o mal-humorado e permaneço calada ao lado do tagarela. Nos elevadores, além daqueles já conhecidos, há sempre uma cara nova, um rosto ainda desconhecido. Alguém que está acordando quando estou indo dormir ou alguém que volta para casa quando saímos para a Faculdade. O que não significa que os dias sejam descartáveis. As cenas das crianças jogando bola na calçada, o pão de queijo e o cafezinho reconfortante do Café Floresta, a Feirinha de Artes da República aos domingos que se mudou para a Ipiranga, os cafés da manhã na Boutique de Pães, as conversas na Pizzaria Copan, as cervejas no Café Baloon, as brincadeiras nos corredores... Pelo contrário, são inesquecíveis. Curvas que levaram Niemeyer a pensar o mundo como um lugar mais justo, curvas que nos levam a perceber a grandeza de simples paredes, que temporariamente nos abrigam nessa incrível cidade.

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