Nossa Casa
AMARELO CENTO E OITO

Cuidado, meu amigo, não vá se estrepar Não queira dar o passo mais largo que as pernas podem dar Não se iluda com um beijo, uma frase ou um olhar Não vá se perder por aí... Você é bem grandinho, já pode se cuidar e Ir seguindo seu caminho, sempre errando até um dia acertar Mas não tenha muita pressa, vá tentando devagar Só não vá se perder por aí... Atrás dessa porta, o Sampacentro viveu durante um mês. "Os Mutantes" na cobertura do Copan. Entre Mutantes, Marisas, Beatles, Stones e tantos outros sons que passaram por nosso aparelho de CD durante a estadia no Copan, foi a primeira a banda que mais me marcou. Em especial, uma gravação de 69, “Não vá se perder por aí”, de Raphael Vilardi da Silva e Roberto Loyola. Em parte porque, no início, quando a idéia surgiu, era o que eu queria mesmo: estar perdida no Centro de São Paulo, essa cidade fascinante; mas com um pé na realidade. Meu medo era que talvez pudéssemos nos perder totalmente e esquecer nosso principal objetivo – o de coletar o máximo de material possível – e nos voltássemos apenas para nós mesmas: a diversão, o deslumbre, o desbunde. Um mês depois, vejo que esse medo – muito natural, quando se trata de uma experiência considerada por muitos arriscada – não passava de curiosidade elevada a seu grau máximo. Curiosidade de entrar pela porta amarela do número 108 do bloco B do Copan e descobrir suas possibilidades – nossa base de estudos, concentração de idéias e reuniões definitivas para o projeto, um refúgio, um momento de descanso no sol do meio-dia de um dia de semana. Suas portas, suas cores, seus odores, suas caras, seus jeitos: o Copan foi uma experiência engrandecedora, num momento em que “se perder” foi essencial para podermos achar não apenas todas essas personagens fascinantes – mas também os nossos próprios caminhos.