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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Nossa Casa

212B, BAKER STREET

Era uma casa muito engraçada, até tinha teto, no mais não tinha quase nada. Além das pilhas de colchão e do armário tomado de roupas, livros e bugigangas que levamos no primeiro dia, o chuveiro e a campainha só vieram uma semana depois - antes disso cada uma tomava banho na sua respectiva casa. Em seguida chegou a cortina que cobria menos de dois terços (2/3) da janela. O que nos rendeu noites mal dormidas - nos últimos dias eu saquei minha "viseira" e consegui ganhar alguns minutos a mais de sono no escuro. O frigobar nunca foi concretizado, ficou no plano das idéias. Três isopores habitaram nosso "apertamentozinho" a partir da festa de inauguração e male-má nos sustentaram até a terceira e última reunião - a de despedida. É erro pensar que aquelas, literalmente, quatro paredes só serviram para enquadrar nossas farras, para pendurar o calendário, o mapa de São Paulo, uma pintura de Monet, o mural e uns cartazes. Nosso QG presenciou todos nossos depoimentos. Mais de uma pessoa lá dentro e já rolavam os comentários do dia: os entrevistados curiosos, ou não, os fatos interessantes e também debates picantes sobre o Projeto. Quando nossa temporada estava por terminar pensamos na possibilidade de ficarmos mais, afinal, não faltavam coisas a serem feitas, lugares a serem (re)visitados e (re)pesquisados. Se a experiência de morar nas curvas sensuais de Niemeyer durasse mais que um mês talvez fosse positivo: o saldo de assassinatos. De verdade: as brigas foram tão poucas que até nós mesmas estranhamos. Mas o prazo de validade era mesmo de um mês: na noite de sábado, antes da festinha de despedida o chuveiro explodiu - que os convidados não saibam mas teve gente que ficou sem banho. O "bichinho" - um bonequinho da Lu, na madrugada de domingo, se calou quando foi jogado pela milionésima sétima vez contra a parede, ele não fez mais seu barulho característico de vidro estilhaçando. Vendo a casa sendo desmontada, nossas coisas ensacoladas, lançaram a pergunta "O que você vai dizer quando perguntarem se essa experiência foi proveitosa?". "- Elementar, meu caro Watson", diria o mais ilustre morador de Baker Street, Sherlock Holmes, entre uma baforada e outra de seu cachimbo.

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